5.1.21

Monteiro Lobato: homem e livros - I Jornada Monteiro Lobato da Universidade de São Paulo e Universidade Johannes Gutenberg


 

Título original

Monteiro Lobato: homem e livros

I Jornada Monteiro Lobato

da Universidade de São Paulo e Universidade Johannes Gutenberg 

 

Organizadores 

Cornelia Sieber

John Milton

Vanete Santana-Dezmann

 

Editora

Oxalá Editora - Gahmenerstr. 179 44532 Lünen - Alemanha

 

ISBN

978-3-946277-42-2

 

Data da publicação

DEZEMBRO DE 2020

 

Capa

Magno Silveira

 

EdiTOR

Mário dos Santos

 

Imagem da capa 

© Copyright Magno Silveira

  

Revisão

Silvio Tamaso D'Onofrio



INTRODUÇÃO (p. 03 a 10)

Dra. Vanete Santana-Dezmann


    Há tempos percebo a ausência da obra de Monteiro Lobato nos países que têm a língua alemã como oficial. Quase todos os principais autores brasileiros já têm ao menos um de seus livros publicado em alemão, e mesmo autores menos expressivos de nossa literatura vêm sendo traduzidos. Para modificar este cenário, no segundo semestre de 2019 tive a ideia de propor ao GLK, o Colegiado da Universidade de Mainz “Johannes Gutenberg”, onde sou professora de Tradução, um projeto em que estudantes traduziriam Reinações de Narizinho, tendo, assim, a oportunidade de atuar como profissionais – uma experiência única! Escolhi justamente este livro porque, além de ser um dos marcos da literatura infantil e juvenil brasileira, completa seu primeiro centenário em 2020. Para preparar o terreno em que a tradução brotaria e frutificaria, ocorreu-me a ideia de criar um pequeno evento que reunisse lobatólogos e não-lobatólogos que tivessem algo interessante a dizer sobre o autor e sua obra. Convidei, então, John Milton, professor de Tradução da Universidade de São Paulo e um dos principais pesquisadores da área, que inclusive acabara de lançar um livro sobre a relação de Lobato com a tradução, para concretizar a I Jornada Monteiro Lobato organizada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) e pela Faculdade de Tradução, Linguística e Estudos Culturais (FTSK) da Universidade “Johannes Gutenberg” (JGU), que se realizou nos dias 17 e 18 de dezembro de 2019 na FFLCH, sem verba nem para um cafezinho no intervalo, mas com a sala lotada por um público atento e participativo e mais de vinte lobatólogos, em sua maioria, experientes, que não hesitaram em dividir o espaço com os iniciantes.

    Em janeiro de 2020 o projeto de tradução de Reinações de Narizinho foi submetido ao GLK e, em março, saiu o resultado – “Traduzindo Lobato1 ”, apelido do projeto, que recebeu um longo título em alemão, foi um dos selecionados para receber financiamento. Além de arcar com a produção e publicação da tradução na Alemanha, o GLK ofereceu o suporte financeiro necessário à execução do projeto e à publicação deste livro que traz as conferências apresentadas na I Jornada. A FTSK, tal como a FFLCH em 2019, ofereceu o espaço físico e recursos técnicos e humanos para que a II Jornada Monteiro Lobato FFLCH/USP – FTSK/JGU ocorresse em Germersheim, na Alemanha, onde fica nosso campus. Com o cancelamento dos eventos presenciais deste ano que será inesquecível para todos nós, a Jornada se tornou um evento virtual, com o duplo benefício de ser transmitida mundialmente e ficar registrada para consultas posteriores.

    É, pois, com prazer que agradeço ao Prof. Dr. Andreas Hildebrandt, diretor do GLK, à Profa. Dra. Cornelia Sieber, da FTSK, e ao Prof. John Milton, da FFLCH. Aproveito para agradecer os ouvintes e palestrantes da II Jornada Monteiro Lobato e reiterar o agradecimento aos que marcaram o início desse evento: I Jornada Monteiro Lobato, que foi realizada nos dias 17 e 18 de dezembro de 2019 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Organizada pela Profa. Dra. Vanete Santana-Dezmann (Departamento de Português e Espanhol da Faculdade de Tradução, Linguística e Estudos Culturais da Universidade Johannes Gutenberg – FTSK/JGU) e pelo Prof. Dr. John Milton (Departamento de Letras Modernas da FFLCH/USP), a Jornada era composta por 22 conferências, reunidas em 6 blocos temáticos: 1) Monteiro Lobato no Brasil, 2) Monteiro Lobato, o encantador de crianças, 3) Monteiro Lobato e a ilustração literária, 4) Monteiro Lobato no exterior, 5) Literatura e representações sociais e 6) Monteiro Lobato e seu tempo. O principal objetivo do evento foi apresentar e debater diferentes facetas do escritor paulista no ano em que sua obra entrava em domínio público.

    Este livro reúne a maior parte dos trabalhos exibidos ao público naquela ocasião. Em 12 capítulos sucintos, além de uma longa “epigrafe”, participantes da I Jornada investigam diferentes aspectos da vida e da obra de 1 https://monteirolobato.fb06.uni-mainz.de/ José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), um dos mais importantes escritores brasileiros. Os capítulos foram organizados em dois eixos: “o homem” e “a obra”, que determinaram a ordem em que se apresentam. A divisão implícita serve mais como princípio norteador, visto que Lobato “é um personagem caleidoscópico, que teve forte presença não apenas no mundo das letras”, na definição precisa de Tania Regina de Luca. Poucos intelectuais brasileiros tiveram vida e obra tão entrelaçadas.

    No primeiro capítulo, “Monteiro Lobato antes do Jeca Tatu”, Tania elenca alguns dos principais fatos do início da carreira do escritor, quando ele começava a colaborar em periódicos. A popularidade da personagem Jeca Tatu, retratada em artigo de 1914, no importante jornal O Estado de S. Paulo, marca o início da consagração de Lobato. A progressiva relevância do autor nos círculos intelectuais se mescla a seu envolvimento com as mais diversas atividades profissionais, em setores como a publicação de livros, a diplomacia e a prospecção de petróleo. Outra personagem de Lobato que se tornou emblemática de seu projeto estético, por sua vez, ancorado em ideias para o desenvolvimento do Brasil, é examinada por Amaya Prado no capítulo “Entre o culto e o popular: duplicidades do Inquérito sobre o Saci Pererê”. O sucesso do inquérito, criado por Lobato em 1917, no jornal O Estadinho, culminou com a publicação do livro de estreia do autor, O saci-pererê: resultado de um inquérito. Amaya investiga as polarizações de ideias encontradas na obra, especialmente as sociais e artísticas.

    A entrada de Lobato no campo literário brasileiro se dá por meio de cartas: o artigo “Velha Praga” (1914), no qual a figura do Jeca é esboçada, teria sido enviado à seção de cartas dos leitores do jornal O Estado de S. Paulo; o livro O saci pererê... reúne cartas de participantes do inquérito sobre a personagem lendária. Durante toda a sua vida, Lobato usou cartas não apenas como prática de comunicação, mas como “poderoso meio de intervenção social”, conforme advoga Emerson Tin no terceiro capítulo, “A correspondência de Monteiro Lobato como exercício da sociabilidade”. Lobato escrevia incansavelmente a intelectuais, políticos, presidentes da República… e crianças, como atesta Raquel Afonso Silva no quarto capítulo, “O diálogo epistolar entre Monteiro Lobato e seus leitores infantis”. As cartas infantis investigadas por Raquel possibilitam novos entendimentos sobre os processos de composição literária de Lobato e seu sucesso entre crianças.

    Um precioso conjunto de cartas até recentemente inéditas, enviadas por Lobato a uma escritora gaúcha, é analisado por Silvio Tamaso D’Onofrio no quinto capítulo, “Correspondência com Yaynha Pereira Gomes”. As cartas à “senhora amiga” revelam um homem que faz observações líricas sobre o inverno no hemisfério norte e comentários pitorescos sobre o “lixo rico” produzido pelos norte-americanos. Faceta muito diversa é explorada por John Milton no sexto capítulo, “Lobato e Getúlio”: a independência de Lobato como intelectual e empresário, os vários combates que empreendeu a políticas governamentais, o preço alto que pagou – da censura de livros à prisão - por se opor à ditadura do Estado Novo.

    No sétimo capítulo, “Lobato e o ‘vício’ da tradução”, Vanete SantanaDezmann analisa a importância do autor como agente cultural brasileiro, que, além de publicar e divulgar traduções, traduziu ele mesmo numerosos títulos de variados gêneros. O oitavo capítulo, “O editor Monteiro Lobato e a ficção brasileira dos anos 1920”, de Milena Ribeiro Martins, reúne dados que conferem perspectiva mais ampla para compreender as edições de obras literárias publicadas pelas empresas de Lobato em relação às de outras editoras nacionais e faz a transição para a segunda parte, que tem início no com “A apropriação dos contos de fada em Reinações de Narizinho”, o nono capítulo, em que Adriana Silene Vieira comenta como o autor se apropriou de histórias estrangeiras, dentre as quais, os contos de fada, ao compor suas narrativas infantis. Já no décimo capítulo, “A apropriação Saci Sarará e novidades sobre a agência de Lobato na Argentina”, Silvia Cobelo trata da produção de seu próprio livro Saci Sarará, “uma apropriação de Lobato”, lançado em 2019, em Buenos Aires, e também das traduções de Lobato na Argentina, além de sua atuação como agente cultural naquele país. No décimo-primeiro capítulo, “Diálogos com a modernidade e a modernização em América, de Monteiro Lobato”, Vanessa de Paula Hey trata do debate apresentado por Lobato no livro América (1932) a respeito do desenvolvimento econômico, político, social e cultural da sociedade norte-americana da década de 1930. No capítulo final, Nilce M. Pereira se volta para “Ilustradores, ilustrações e aspectos visuais em obras produzidas ou traduzidas por Monteiro Lobato”, que discute, entre outras questões, os efeitos de determinados usos de ilustrações em obras lobatianas de diferentes épocas.

    O conjunto desses trabalhos representa o que há de atual nas pesquisas sobre a vida e a obra de Monteiro Lobato. Mais ainda, representa a atualidade da obra lobatiana, que continua viva, provocando estudiosos de áreas as mais distintas, inspirando novos criadores e atraindo leitores de todas as idades. Eles ainda encontram, nos livros de Lobato, material para a ebulição de fantasias, a elaboração de conhecimentos e a forja de críticas e reflexões, conforme argumenta Gildo Magalhães dos Santos Filho ao relatar e examinar as leituras do livro infantil de Lobato por alunos do curso de Licenciatura em Geociências, Ciências e Educação Ambiental do Instituto de Geologia da USP no capítulo que se tornou uma curiosa, porquanto extensa, epígrafe: “O Poço do Visconde: uma experiência em sala de aula de graduação”.


ÍNDICE


Introdução 

Vanete Santana-Dezmann

 

Mais que uma epígrafe...

O Poço do Visconde: uma experiência em sala de aula de graduação

Gildo Magalhães dos Santos Filho 


Capítulo I

Monteiro Lobato antes do Jeca Tatu

Tania R. de Luca 


Capítulo II

Entre o culto e o popular:

Duplicidades do Inquérito sobre o Saci Pererê, Monteiro Lobato 

Amaya O. M. de A. Prado 


Capítulo III

A correspondência de Monteiro Lobato como exercício da sociabilidade

Emerson Tin 


Capítulo IV

O diálogo epistolar entre Monteiro Lobato e seus leitores infantis 

Raquel Afonso da Silva


Capítulo V

Correspondência com Yaynha Pereira Gomes

Silvio Tamaso D’Onofrio


Capítulo VI

Lobato e Getúlio 

John Milton


Capítulo VII

Lobato e o “vício” da tradução

Vanete Santana-Dezmann 


Capítulo VIII

O editor Monteiro Lobato e a ficção brasileira dos anos 1920

Milena R. Martins 


Capítulo IX

A apropriação dos contos de fada em Reinações de Narizinho

Adriana Silene Vieira


Capítulo X

A apropriação Saci Sarará e novidades sobre a agência de Lobato na Argentina 

Silvia Cobelo


Capítulo XI

Diálogos com a modernidade e a modernização em América, de Monteiro Lobato 

Vanessa de Paula Hey 


Capítulo XII

Ilustradores, ilustrações e aspectos visuais

em obras produzidas ou traduzidas por Monteiro Lobato

Nilce M. Pereira





Vanete Santana-Dezmann é professora, pesquisadora e tradutora. Juntamente com John Milton, é responsável pelas Jornadas Monteiro Lobato USP-JGU. Tem pós-doutorado em Estudos da Tradução pela Universidade de São Paulo, com estágio de pesquisa no Goethe-Museum de Düsseldorf; doutorado em Teorias de Tradução pela Universidade de Campinas e mestrado na mesma área, também pela Universidade de Campinas, onde se graduou em Letras.


 


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Olá, Liana. Muito obrigada. Estou verificando a melhor forma de enviar o livro para o Brasil a um custo baixo. Ele está disponível na Amazon, mas com o preço da Alemanha, o que o torna extremamente caro (fora da realidade), devido ao atual câmbio. Por favor, envie uma mensagem para meu e-mail e assim que eu tiver uma solução, eu te respondo por lá. (vasantan@uni-mainz.de ou vanetedezmann@gmail.com)

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